Roberto de Carvalho Rocha
21 Mai 2009 - 01h51min
Os dois amigos se encontraram no restaurante no fim de semana para o costumeiro jantar. Psiquiatra um, sacerdote o outro. O psiquiatra foi logo falando. “Sabe que nós somos colegas de profissão? Hoje foi que percebi. Só que eu chamo meus clientes de pacientes e você chama os seus de penitentes. Ambos escutamos os mesmos acontecimentos. Só que eu os chamo de traumas. Você é mais cruel. Chama-os de pecado”.
O sacerdote bebeu um pouco de refrigerante e sorriu. “Só que você fica envenenado com as confissões que você escuta e eu fico é feliz.”
O psiquiatra sorveu um gole de uísque e se queixou. “Hoje realmente estou envenenado. Mulheres passaram para mim sua angustia de se sentirem envelhecendo sem mais o amor do marido, sem filhos, porque fizeram muitos abortos. Vivem somente para cada dia contarem mais rugas, cada dia sentirem mais dores, cada noite mergulharem na solidão e angustia. Não há mais motivo para sorriso. Nunca irão explodir numa gargalhada, quando um neto pequeno no seu colo perguntar com toda seriedade: “Vovó, por que as pessoas chamam gato de gato?”
O psiquiatra pegou o padre pela mão. “Você é feliz, padre! Para você elas contam somente os pecados. Você as absolve, coloca-as novamente em contato com Deus, que é amor, e elas saem felizes. Você não tem de escutar os sonhos! Estes são o perigo, os que mais doem. Minha última cliente contou-me seu sonho: Na rampa de lixo os cachorros lutavam pelos sacos de plástico com sangue, que acabavam de chegar. Nos sacos, o nome do hospital onde ela fizera o seu último aborto. Um saco rasgou-se e caiu uma cabecinha. Com os dentes o cachorro pegou-a pela orelha e saiu correndo pela escuridão. Podia ter sido meu filho, doutor!”
Roberto de Carvalho Rocha - Diretor da Faculdade Christus.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
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