segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sobreviventes do sucesso!



Sobreviventes do sucesso!
Prof. Chafic Jbeili – www.chafic.com.br

Digo a mim mesmo: Sobreviver do próprio sucesso é o princípio da realização. Sobreviver do fracasso é condenar-se a infelicidade.

Mês passado minha esposa Rosilene teve um pequeno acidente de trabalho oportunizando a mim interessante observação. Ela se feriu com um estilete, tendo logrado profundo corte na região superior da mão esquerda, localizado entre o indicador e o polegar. Ficamos os dois internados! Ela como paciente e eu como acompanhante.

No tempo ocioso, enquanto aguardávamos eventual ordem de cirurgia pelos indecisos residentes de plantão, ela dormia ao soro e eu conversava com outros acidentados e acompanhantes naquela ala do Hospital de Base de Brasília-DF. As lamúrias e lamentações eram abundantes, todas justificáveis e de doer o coração! Certamente, a emergência de um hospital público não é o tipo de ambiente mais adequado e de clima propício para se contar vitórias, exceto quando se consegue atendimento ou alta, depois de sanado o problema, é claro! Rose agora passa bem, obrigado!

A observação interessante que fiz foi no sentido de haver pouca diferença entre o discurso das pessoas internadas das pessoas que encontramos nas salas de aula, nas equipes de trabalho, nas filas de banco, ou nos encontros casuais. Constantemente, percebe-se alguém internado na própria vida, reclamando da má sorte, de outro alguém, de algo que aconteceu ou deixou de acontecer. é a insegurança que gera o medo; que alimenta o desespero e faz jorrar a reclamação como uma espécie de grito de socorro. Uns apropriados, outros bem artificiais.

Inúmeras são as pessoas que no dia a dia falam de seus revezes, da falta de sorte, do tanto que foram enganadas e do quanto são vítimas das pessoas e das circunstâncias, às vezes até da própria existência, tal qual o profeta Jeremias ou mesmo Jó, famosos personagens bíblicos. Eu também, de temperamento predominantemente melancólico, fui um destes, talvez o pior dos reclamões. Pouquíssimas são aquelas pessoas que, quando podem, contam suas glórias, suas vitórias e compartilham amorosamente aquilo que deu certo de verdade, tal qual fizeram o Rei Salomão e o Rei Davi, talvez por isto tornaram-se reis e escreveram o livro dos Salmos, ao invés de o livro das Lamentações!

Contemporaneamente, não lembro uma só entrevista de Ayrton Senna, Bill Gates ou Madre Tereza reclamando de algo ou de alguém. Eles sempre compartilharam e Bill Gates ainda compartilha suas conquistas, seus sucessos e principalmente seus sonhos, com evidente humildade, sem qualquer pretensão aparente ou necessidade narcisística de autobajulação!

A falsa reclamação ou a autobajulação não é só questão de baixa auto-estima não, vai bem além do sentir-se mal consigo mesmo, tem a ver com a cultura da sorte e do azar. Mais intimamente, as lamúrias sem fim e o narcisismo estão relacionados com as carências pessoais, fruto das perdas naturais ou forçadas, mas certamente mal elaboradas.

O ditado “quem não chora não mama” é bastante conhecido e quantas não foram as pessoas que aprenderam tirar proveito do próprio infortúnio? Foram ensinadas a reclamar, reclamar, reclamar para ver se conseguem algum leitinho morno. E sempre aparece! Há sempre uma alma bondosa e um coração generoso disposto a oferecer afago, colo ou empréstimo! Quantas coisas: descontos, beijinhos, brindes, aumento salarial e até perdão se recebe com um bem fundamentado Chororô!

A psicanálise conhece bem a dinâmica do ganho secundário, ou seja, a pessoa relata seus percalços como se estivesse sofrendo profundamente, e por mais que haja realmente presente, em alguma intensidade, o sofrimento e a desvantagem, a lamentação é a maneira explícita e eficaz para saciar eventuais carências veladas. No setting analítico, a choradeira pode ser vista como catarse e, neste formato, torna-se muito mais produtiva para a pessoa.

Contudo, quem já não aproveitou de uma gripezinha para tirar o dia de folga, ou do estresse para justificar eventual grosseria? Muitos adultos sofrem dores andarilhas sem causa aparente e crianças somatizam suas carências parentais em forma de febre alta ou diarréia.

A atenção primária de saúde relata que, em média, 75% das queixas registradas nos ambulatórios médicos são de origem emocional e não de ordem física como se apresentam. Muitas são as pessoas que querem ser cuidadas sem serem libertas de seus males. A maioria, de uma forma ou de outra, se beneficiam de suas queixas, de seus dengos, superlativizando os pequenos tropeços como se fossem quedas fenomenais, por isto ficam dependentes deles.

Isto não é motivo de vergonha, não é crime, muito menos pecado. É apenas um comportamento aprendido; um jeito infantil de se conseguir o esperado. Com o tempo acaba virando um vício socialmente nocivo e mal visto. Entretanto, a manipulação é uma estratégia que funciona bem! É também uma questão de temperamento que altera a perspectiva do sujeito: Para o melancólico, geralmente, um copo com água pela metade pode estar meio vazio, mas para o sanguíneo o mesmo copo pode estar meio cheio.

Em Direito estuda-se uma disciplina chamada "vitimologia", cujo princípio teórico alega que a vítima é, em algum momento, a própria culpada do infortúnio que reclama. Quando isto é evidenciado no elucidar dos fatos, o juiz atenua a pena do réu, dividindo a culpa com a autora do processo. No fundo no fundo, toda vítima é também o carrasco de si mesma.

Enfim, mudar a perspectiva sobre os acontecimentos, sair do papel de vítima e deslocar o foco de atenção para aprender experimentando novas formas mais maduras de se conseguir aquilo que precisa é um desafio fantástico e bem acessível a todos que tentam manter-se a salvo de si mesmos (tema do próximo texto!).

Seja por manipulação, por imaturidade, por traços da personalidade ou por mera conveniência, o certo é que quando se aprende a sobreviver do fracasso, o sucesso não encontra lugar. Sobreviver tirando proveito daquilo que não deu certo é preparar-se para a futura miséria, mesmo que no presente a pessoa sinta-se no controle da situação e com o poder nas mãos ao conseguir o que se quer.

Assim pensam os sobreviventes do fracasso: Nada pode dar certo, pois se tudo está bem e prosperando, como receber ajuda de alguém, não é mesmo? Recusam as melhorias para não abrir mão da esmola. Nada de bom se permitem contar, pois a compaixão alheia é fonte inesgotável de benefícios.

Em contraponto, dinheiro chama dinheiro e felicidade chama mais felicidade, já dizia minha avó Maria! Contar as glórias e falar das conquistas com certa humildade não dá azar e nem atrai a inveja alheia, antes conquista admiração e respeito, preparando a pessoa para ser um sobrevivente do sucesso! E o sucesso é ser feliz, alegrando-se com a felicidade própria e também com a felicidade do outro.

Portanto, sorrir sempre, falar dos sonhos e focar aquilo que deu certo na vida são hábitos saudáveis e ousados das pessoas mais prósperas. Quem assim procede torna-se verdadeiro e genuíno sobrevivente do sucesso, atraindo outros sobreviventes de acontecimentos felizes e, invariavelmente, assimilam a prosperidade do dia a dia e vivem o próprio sucesso, por menor que pareça e por mais simples que este se apresente!

Aproveite o dia e continue celebrando a vida ao compartilhar seus sucessos, pois acredito que você é também um(a) sobrevivente do sucesso!

Abraços fraternos,

Prof. Chafic

Psicanalista e Psicopedagogo
Diretor e editor Chafic.com.br - www.chafic.com.br
Diretor-executivo ABMP/DF - www.abmpdf.com
Presidente Sopensar - sopensardf.blogspot.com

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