sexta-feira, 31 de julho de 2009

Compartilhando vitórias

Compartilhando vitórias
Texto de Edna Coimbra

Todos nós temos um sonho! Uns, sonham com coisas grandiosas, outros, ficam radiantes com pequenos sonhos que vão se realizando ao longo da vida. Meus sonhos sempre foram sonhos normais: casar, ter filhos, educá-los, ajudá-los em suas conquistas, ver meus netos nascerem, crescerem ...

Depois que o Nathan Naum nasceu, vários pequenos sonhos inundaram meu pensamento: o de ouvi-lo falar, se comunicar... Mas um sonho em especial acalentava o meu coração: que ele falasse ao telefone. No início ele nem se dava conta (ou com certeza não queria dar!) quando o telefone tocava. Depois passou a tirar o telefone da base e recolocá-lo. Depois, pegava o aparelho, colocava-o no ouvido, para depois retorná-lo à base. Hoje, ao ligar para a minha filha, para saber das crianças,. ela me disse que eles estavam bem: Abraão havia ido à rua, e o Nathan estava “arrumando a sua bagunça”. Daniela então pediu que eu falasse com ele. Comecei a conversar com ele, e perguntei o que ele estava fazendo: “Arrumando os brinquedos”, me respondeu ele. Continuei o diálogo: E o Abraão, onde está? “Foi na rua”. Perguntei então: E a sua mamãe? “Tá aqui no quarto”. É claro que para cada pergunta, Daniela o incentivava a responder. Ao ouvi-lo ao telefone, senti uma felicidade tão imensa! Parece coisa simples, mas não é! Vocês sabem disso!!! Queridos, a cada jornada vencida, ou sonho realizado, agradeço a Deus, pois bem sei que é Ele quem nos tem ajudado.

Nathan Naum está falando tudo, embora ainda não mantenha conversação. Ele forma as palavras, ora com seus bloquinhos de madeira, ora com os de plástico, e as lê. Todas às vezes que forma uma palavra nova, corre para “chamar” a mãe e levá-la até o quarto. Daniela pergunta: Que palavra você escreveu? Ele então a lê para ela. Daniela lhe diz: Que lindo! Parabéns Nathan, parabéns! Ele então responde: É muito bem! É muito bem! Ontem ele escreveu “shopping”, e hoje, “advertência”. Ele não só formou as palavras, mas as leu para a Daniela, que maravilhada, quase desmaiou de felicidade.

Sabemos perfeitamente que ainda há um longo caminho a ser percorrido. Mas estamos orgulhosos porque Nathan Naum está vencendo cada etapa. Alguns pulam essa, ou aquela etapa. Outros, demoram um pouco mais na realização de algumas. Porém, o importante é vencê-las. E isso o Nathan Naum tem conseguido. No tempo dele, é verdade, mas tem conseguido!

Queridos, sabem de uma coisa importantíssima: quando olho para trás e vejo o quanto ele cresceu, avançou, superou, percebo que lembrar o início de tudo, do diagnóstico, do “luto”, da busca de ajuda, já não dói na alma. Pelo contrário, lembrar de tudo o que ele já passou, (e nós também!) nos dá força para dizer a quem está chegando, ou está desanimando (porque tem hora sim, em que bate uma tristeza, um desânimo, uma vontade desesperadora, de sumir, de jogar tudo para o alto, de entregar os pontos) que vale a pena continuar essa jornada; que é possível sim, obter vitória, que os iiiiii se transformarão em pequenas sílabas, em palavras simples; que as correrias incansáveis pelo meio da casa irão diminuindo à medida que passamos a entender, valorizar, e supervisionar essa dinâmica; que as longas noites, ou dormindo muito tarde, ou acordando pelas madrugadas, também irão diminuindo porque aprenderemos a controlar a ansiedade tão presente em nossas crianças, e a ensinar-lhes que há uma hora para tudo.

Claro que no início é tudo muito difícil: para eles e para nós. Nathan Naum deixou os “iiiiii”, mas de vez em quando vem com um “muuu muuu muuu”. Daniela, que não brinca em serviço, dá logo um tranco: Ó menino, você é vaca, para ficar mugindo? Rapidinho ele para com o “muuu”, e fica com cara de “pastel”. Correr pela casa? Que nada! O moleque quer é correr de bicicleta na rua. Haja pernas. Ele diz para a mãe: “bicicleta”. Daniela explica: Nathan está chovendo. Ele insiste: “bicicleta”. Agora, acordar cedo é com ele mesmo. O menino é um relógio: cinco horas da manhã ele acorda. Mas fica deitadinho, falando ou cantando baixinho. No início acendia todas as luzes da casa e corria para lá, e para cá, na sala. E tem também as birras! As tão assustadoras e desagradáveis birras: se jogar no chão, morder e arranhar o outro, ou a si mesmo; o choro e os gritos. Ai, ai! É nesse momento que desmorona tudo! Mas não pode! É justamente nessa hora que o nosso "controle" da situação tem que está ligado. A gente precisa buscar sabedoria para distinguir o que é birra "birra", do que é negação, frustração, não aceitação. Parece à mesma coisa, mas não é!

Queridos, quem é que não gosta de praia, de piscina, de ficar no computador, de espalhar todos os brinquedos, como se estivesse numa "piscina de bolas", de andar (horas!) de bicicleta, de brincar na chuva, de subir em montes de areia e as espalhar (bem espalhadas!) com os pés (calçados ou não) ou com as mãos! Só que às vezes não demarcamos tempo, espaço, prioridade das atividades. O nosso dia a dia é muito corrido: casa, marido, trabalho, outros filhos. Mas, nossos filhos não são cabides, que você põe ou tira a roupa, e eles ficam estáticos. Nossos filhos são gente como a gente, com as mesmas necessidades de afeto, atenção e respeito que nós. Ah! Tem alguma coisa mais irritante do que desligarem o computador na nossa cara; escolherem a camisa azul, quando queremos a vermelha; calçar o tênis quando queremos estar descalços; insistirem em virarmos a direita quando nosso desejo é seguirmos em frente; nos obrigar a sentarmos quando queremos ficar em pé; mudar o canal da TV quando estamos assistindo o nosso programa favorito; perguntar N vezes a mesma coisa quando não estamos a fim de dizermos nada (nem um iiiii!)? É. Eles também! Só que eles ainda não sabem como verbalizar isso, e nós, ainda não aprendemos a ler em seus olhos, em seus movimentos, em seu corpo, por isso se frustram, se magoam, se irritam.

Bem..., nessas ocasiões, o melhor é usar a razão em vez da emoção, porque senão ficaremos tão estressados quanto eles, ou o que é pior, poderemos levá-los a um estresse maior. É fazer acordos, e cumpri-los, (é claro que um pouco de flexibilidade não faz mal a ninguém) e o mais importante: levá-los a compreender o que foi acordado, ou seja, o que esperamos deles e o que eles podem esperar de nós. Nathan Naum adora o computador, se deixar ele "esquece" da vida; os CD da nossa amiga Andréa, ele os vê, e "trabalha" nos mesmos, todos os dias; se deixar ele passa o dia todo andando de bicicleta. Mas, ele está aprendendo que todo mundo tem hora para cada atividade: ele, o irmão,o pai quando vem buscá-los, e até a Madona tem hora para ir à rua fazer cocô! Por isso devemos sempre conversar com eles! "Mas ele não me responde" Não tem problema! Ele está sempre ouvindo o que você está dizendo, mesmo que pareça não está nem aí. Sabem, se ninguém sinalizar o meu "norte", como saberei o caminho certo a seguir? Se você explicar, com calma, sem gritos e com determinação, ele cumprirá a parte dele no acordo! Pode levar um tempo, dois ou até mais (na verdade são muitos mais), mas ele consegue. Eles nos compreendem, nos ensinam e aprendem conosco, só não sabem como manifestar essa compreensão. Aliás, nossa vida é um eterno aprendizado, e nós aprendemos mais do que ensinamos.

Por favor, acreditem que seus filhos são capazes. Não desistam nos primeiros obstáculos. Lutem por eles. Busquem toda e qualquer ajuda para capacitá-los. Nossa vida é difícil, como a de vocês também! Mas não deixem que isso impeça vocês de investirem neles. Usem os órgãos públicos, corram atrás de convênio, peçam auxílio, mas lutem. Nossos filhos conseguem aprender muito mais do que vocês pensam, ou esperam deles.

Que Deus, em o nome de Jesus, continue nos dando discernimento para seguirmos nossa luta. Que possamos ministrar para os nossos filhos, palavras de amor, compreensão, incentivo.

Um beijo no coração de todos,

Edna Coimbra (Vovó do Nathan Naum, sete anos, AUTISTA).

Um comentário:

  1. Sabe eu estava por visitando sites e pensando: "Onde eu busco meu sonho?", e encontrei esse blog, lí sobre a simplicidade de você poder ouvir seu neto ao telefone e isso te trazer tanta felicidade, e me comoveu.
    Você têm lindos netos, lindos e amados, o que é mais importante.
    Parabéns! Um beijo no coração de todos vocês ♥

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